Criptorquia: o que é e como tratar

6/12/22

Nos últimos meses do bebê no útero, sua formação está quase completa. É nesse momento, por exemplo, que os testículos, gerados no abdômen, tendem a sair de lá e completar a bolsa testicular. Porém, pode acontecer de um dos dois ou ambos os testículos ficarem parados no meio do caminho, causando o que chamamos de criptorquia, popularmente conhecida como testículos não descidos.

Tipos de criptorquia

A criptorquia pode se manifestar de maneiras diferentes em cada paciente. Seus sintomas envolvem, principalmente, a ausência unilateral ou bilateral dos testículos na bolsa testicular. Em casos mais raros, a região pode ficar dolorida por inflamação.

A distopia testicular pode se apresentar das seguintes formas:

  • testículos distópicos – quando os testículos estão sempre fora da bolsa escrotal, ficando no canal inguinal;
  • testículos ectópicos – ficam fora do canal habitual;
  • testículos crípticos – quando não podem ser encontrados em exames físicos;
  • testículos retráteis – são aqueles testículos que estão mais tempo fora da bolsa, mas que já estiveram lá.

Causas da criptorquia

Também conhecida como criptorquidia, não possui uma causa exata. Existem muitos fatores que podem influenciar essa condição. No entanto, são mais comuns em:

  • nascimento prematuro;
  • baixo peso ao nascer;
  • Síndrome de Down;
  • contato com substâncias tóxicas;
  • hérnias e/ou anomalias no abdômen inferior.

Portanto, assim que a criança nasce, é importante examinar a bolsa escrotal a fim de identificar a localização dos testículos. Qualquer anomalia deve ser investigada e acompanhada, pois é possível que, naturalmente, os testículos desçam para a bolsa. Caso isso não aconteça, uma cirurgia ou intervenção hormonal será necessária para corrigir essa condição.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito através de exames físicos com a criança em duas posições: em pé e deitada. Desta forma, o médico consegue avaliar a localização, mobilidade, volume testicular e outros fatores, como hérnias, acúmulo de líquido ao redor dos testículos (hidrocele), tamanho do pênis etc.

Na maioria dos casos, os testículos são palpáveis. Porém, nos casos onde não é possível apalpá-los, um procedimento como a videolaparoscopia, se tornam importantes para um diagnóstico preciso.

Complicações

Uma das principais complicações relacionadas à criptorquia é a infertilidade. Isso porque, para produzir uma boa quantidade e qualidade de espermatozóides, é preciso que os testículos estejam armazenados em uma temperatura entre 1°C e 1,5°C menor que o resto do corpo.

Geralmente, pacientes que têm quadro unilateral tendem a ter taxas de fertilidade e de paternidade menores que aqueles que possuem os testículos posicionados de maneira correta. Já pacientes com quadros bilaterais e sem tratamento tendem a se tornar inférteis na idade adulta.

Além disso, crianças com criptorquia podem desenvolver futuramente câncer de testículos. Estima-se que exista predisposição genética para desenvolvimento de tumores nestes pacientes.

Tratamento da criptorquia

Antes de pensar em quais opções de tratamentos da Criptorquia estão disponíveis, a recomendação é que se espere até três aos seis meses de vida da criança. Em algumas situações, os testículos descem e se posicionam espontaneamente sem necessidade de intervenção neste período.

Porém, caso isso não aconteça, existem duas alternativas: o uso de gonadotrofina coriônica (hCG) ou uma intervenção cirúrgica.

Uso de hormônio

A administração de gonadotrofina coriônica, um hormônio que serve para auxiliar na fase final de amadurecimento do testículo, finalizando o período de transição definitiva para a bolsa. Mas esta não é a opção mais indicada por não ter estudos suficientes que comprovem sua eficácia. 

Além do mais, se o paciente tem ambos os testículos comprometidos, dificilmente uma terapia hormonal teria o efeito esperado. Nestes casos, o mais recomendado é a intervenção cirúrgica. 

Cirurgia de Criptorquia

O tratamento cirúrgico da criptorquia é chamado de orquidopexia. Preferencialmente, a cirurgia deve ser realizada entre os 6 e os 12 meses de vida, nunca ultrapassando os 18 meses. Seus principais benefícios consistem em:

  • evitar expor os testículos a temperaturas mais elevadas que o adequado;
  • evitar hérnias, torções testiculares e outras lesões.

A depender da localização, é aconselhável o reposicionamento dos testículos palpáveis seja feito por via inguinal. Já em testículos não palpáveis, a correção deve ser feita por via abdominal, através de videolaparoscopia.

Mas fique atento(a): caso o diagnóstico seja tardio (pós-puberdade), a retirada do testículo pode ser o procedimento indicado.

A recuperação da cirurgia é tranquila, apresentando pouquíssimos riscos durante o procedimento e no pós-operatório. Tanto que os pacientes costumam receber alta no mesmo dia.

Após a cirurgia, é importante manter a rotina de cuidados recomendada pelo cirurgião e, caso seja identificada alguma alteração, o médico deve ser comunicado.

A orquidopexia (procedimento cirúrgico) é amplamente ofertada pelos Sistema Único de Saúde (SUS) e pela rede privada. Seja qual for a sua escolha, consulte um cirurgião pediátrico e tire suas dúvidas. Se precisar de ajuda, conte comigo!

Felippe Flausino

Dr. Felippe Flausino

MD, M.Sc. Cirurgião Pediátrico (CRM19161 RQE13289) e membro da Associação Brasileira de Cirurgia. Doutorando em Ciências Médicas pela UFSC

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