A medicina fetal teve avanços significativos nas últimas décadas, permitindo que condições graves em bebês sejam tratadas antes mesmo do nascimento. Com isso, a cirurgia intrauterina, também conhecida como cirurgia fetal ou cirurgia pré-natal, é uma destas inovações, que possibilitou que problemas congênitos sejam corrigidos com o bebê ainda no útero da mãe.
Este artigo detalha o que é a cirurgia intrauterina, as técnicas utilizadas, suas indicações, riscos e os benefícios para o desenvolvimento saudável do bebê e, consequentemente, um nascimento seguro.
O que é cirurgia intrauterina?
A cirurgia intrauterina é um procedimento realizado para tratar problemas congênitos que ameaçam a vida do bebê ou comprometem sua saúde, ainda durante a gestação. Por meio de tecnologias avançadas e técnicas cirúrgicas de alta precisão, esse tipo de procedimento visa corrigir malformações que podem causar complicações graves ou impedir o desenvolvimento saudável do feto.
A intervenção pode variar desde procedimentos minimamente invasivos, como a amniocentese, até cirurgias mais complexas, que requerem a abertura do útero. As cirurgias são realizadas em centros especializados e exigem uma equipe multidisciplinar composta por cirurgiões pediátricos, obstetras e ultrassonografistas.
Técnicas de cirurgia intrauterina
A cirurgia intrauterina é um procedimento extremamente delicado e, por isso, envolve diferentes abordagens, que são escolhidas com base na gravidade do problema a ser corrigido, na saúde da mãe e na idade gestacional do bebê. Existem duas técnicas principais utilizadas para a realização da cirurgia fetal. Falarei sobre elas a seguir.
Cirurgia fetal a céu aberto
A cirurgia fetal a céu aberto é a abordagem mais invasiva. Nesta técnica, o útero da mãe é exposto por meio de uma incisão abdominal, e o cirurgião faz uma abertura no próprio útero para obter acesso direto ao feto. Sendo assim, este método é utilizado para condições mais graves que requerem uma intervenção direta e extensa, como no tratamento da mielomeningocele, um tipo de espinha bífida.
Embora seja uma técnica mais invasiva, ela permite maior controle sobre a área a ser tratada. No entanto, esse tipo de cirurgia pediátrica traz maiores riscos para a mãe e para o bebê, como hemorragias e partos prematuros.
Cirurgia fetal endoscópica
Já a cirurgia fetal endoscópica, também conhecida como fetoscopia, é menos invasiva e, por isso, oferece menores riscos. Nesta técnica, pequenos furos são feitos no abdômen da mãe, por onde são inseridos uma câmera e os instrumentos necessários para a cirurgia. O procedimento pode ser realizado com o feto imerso no líquido amniótico ou com a injeção de gás carbônico no útero, técnica semelhante às videocirurgias convencionais.
A fetoscopia é indicada para malformações que podem ser tratadas sem a necessidade de uma abertura direta no útero, como a síndrome da transfusão feto-fetal ou obstruções urinárias.
Quando a cirurgia intrauterina é indicada?
A indicação para uma cirurgia intrauterina depende da gravidade da condição do bebê e dos resultados dos exames pré-natais – em especial, da ultrassonografia morfológica realizada no segundo trimestre. Quando há risco de vida para o bebê ou comprometimento do seu desenvolvimento, a cirurgia fetal pode ser a melhor opção.
Abaixo, conheça algumas das condições que podem ser corrigidas com o bebê no útero da mãe, de acordo com a abordagem cirúrgica mais recomendada.
Condições para cirurgia fetal aberta
A cirurgia fetal aberta pode ser indicada em casos de obstrução da traqueia, uma condição que compromete a passagem de ar para os pulmões, podendo causar insuficiência respiratória ao nascimento. Esse bloqueio impede o desenvolvimento adequado do sistema respiratório, exigindo intervenção antes do parto.
Outra situação que pode demandar a cirurgia é a presença de malformações pulmonares. Essas massas ocupam espaço nos pulmões do feto, prejudicando seu crescimento e funcionamento, o que torna necessário o tratamento intrauterino.
A encefalocele é uma malformação craniana em que parte do cérebro se projeta para fora do crânio. Esse defeito congênito exige correção antes do nascimento para evitar complicações neurológicas graves.
O teratoma sacrococcígeo é um tumor raro que se forma na região do cóccix e pode crescer consideravelmente durante a gestação, comprometendo o desenvolvimento do feto. Em casos extremos, o tratamento cirúrgico antes do parto é essencial.
Por fim, a mielomeningocele, ou espinha bífida aberta, é uma malformação congênita na qual a medula espinhal não se fecha adequadamente, levando a deficiências motoras e neurológicas. A correção intrauterina pode melhorar o prognóstico e minimizar os impactos na qualidade de vida do bebê.
Condições para cirurgia fetal endoscópica
A cirurgia fetal endoscópica é indicada em diversas condições, como a Síndrome da Transfusão Feto-Fetal (STFF), que ocorre em gestações gemelares com placenta compartilhada. Nesse caso, um dos bebês recebe mais sangue que o outro, gerando complicações graves para ambos e necessitando de intervenção.
Outra condição é a hidrocefalia, caracterizada pelo acúmulo de líquido no cérebro, o que pode aumentar a pressão intracraniana e comprometer o desenvolvimento neurológico do feto. A intervenção cirúrgica visa aliviar essa pressão e evitar danos permanentes.
As obstruções urinárias também podem exigir cirurgia endoscópica, já que bloqueios no fluxo de urina podem prejudicar os rins e a produção de líquido amniótico, essencial para o desenvolvimento saudável do feto.
A hérnia diafragmática é uma condição em que há uma abertura no diafragma, permitindo que órgãos abdominais subam para a cavidade torácica, o que compromete o desenvolvimento dos pulmões. A correção intrauterina pode ser necessária para melhorar o prognóstico respiratório.
Por fim, malformações na coluna podem interferir no desenvolvimento do feto, sendo necessário realizar a correção cirúrgica antes do nascimento para minimizar complicações motoras e neurológicas.
Quais os riscos da cirurgia intrauterina?
Assim como em qualquer procedimento cirúrgico, a cirurgia intrauterina envolve riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. Entre os principais deles, estão complicações relacionadas à anestesia, como quedas de pressão arterial, e complicações no local da incisão, como hemorragias e infecções.
Para o bebê, o maior risco está associado à prematuridade extrema, que pode ocorrer se a bolsa amniótica se romper. Além disso, vale dizer que, após uma cirurgia a céu aberto, o parto normal não é recomendado, devido ao risco de ruptura uterina.
Compensa realizar a cirurgia intrauterina?
Os avanços nas técnicas de cirurgia pré-natal têm mostrado que, em alguns casos, os benefícios do procedimento superam os riscos. Por exemplo, bebês com mielomeningocele operados ainda no útero têm menos chances de desenvolver hidrocefalia e outras complicações associadas à condição, como Chiari tipo II, segundo estudos.
Além disso, o desenvolvimento motor destes bebês costuma ser significativamente melhor do que nos casos em que a cirurgia é realizada após o nascimento. As chances de conseguirem andar sem a ajuda de muletas ou cadeira de rodas são bem maiores quando comparados aos bebês operados apenas depois do nascimento.
Com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, as chances de um desenvolvimento saudável, portanto, são elevadas. Por isso, a decisão de realizar a cirurgia intrauterina deve ser feita com base em uma avaliação médica cuidadosa e em centros especializados, com profissionais de alta competência.
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